Vazios...
Quando volto à aldeia recordo que, das 4 casas que tínhamos de vizinhança, só uma ainda está habitada. Duas estão a venda, os herdeiros acham que as casas têm um poço de petróleo no quintal , tendo em conta o valor que pedem. Recordo as figuras, os trejeitos, as manias, o quão chatinhos eram por vezes. Quando o crepúsculo da vida os ia apanhando, o feitio melhorava,as faces tinham outra serenidade, como quem já sabe o que se segue, já vislumbra o fim... Invariavelmente, falecem em lares ou na unidade de cuidados continuados. Voltam à aldeia no caixão que desce à terra. Cá em cima ainda são vivos na memória de quem fica... Depois os herdeiros dividem tudo, deitam mão ao que podem, e vêm as guerras ,a inveja, algum sentimento de injustiça. Já não tenho o vizinho que espreitava pela entrada do correio na porta, a vizinha quase minha avó. Já não há rebanhos nem cães grandes. Já não há o vizinho que gostava de "inspecionar" terrenos alheios. Já só me restam as memórias, a minha raiz, a minha matriz. E uma vontade danada de viver tudo outra vez....