Cenas do quotidiano
Onde é que ficámos? Tu tinhas um brilho especial no olhar, eu sentia borboletas na barriga sempre que te via. Havia conexão. Parecia que chegámos a esta vida com tudo combinado, planeado e pronto a pôr em acção. Tínhamos sede de viver, não tínhamos medo aos kms, só a estrada e a curiosidade de chegar ao destino, pensar no próximo. O sexo era instantâneo, intenso, verdadeiro, sem desculpas e cheio de pretextos para acontecer. Fazia sentido. Eu e tu juntos fazia sentido. Depois... a rotina deu cabo de nós. Cada um no seu telemóvel, no seu mundinho, dormindo separados sem sentimento de culpa. Instalou-se o dia a dia, foi-se a magia. Veio a depressão, foi-se a libido. E os sentimentos de culpa por não dar o que não consigo dar. É ver tudo ruir e estar em transe, medicada, hipnotizada, sei lá. Sinto-te a desistir lentamente e não quero ir atrás de ti. Não vale a pena. Sabias da doença e deram-te um vislumbre do futuro. E não te importas muito, ou nada.
Onde ficou a minha vida quando tu apareceste? É nisso que pensar. E dar a volta por cima.