Antes de ti a minha alma era negra. A vida cingia-se a trabalhar. Respirar. Voltar a estrada. Tentar agradar para não me sentir tão só. E eu senti-me tanta coisa menos segura de mim. A dada altura nem me reconheci. Começaram os pensamentos suicidas, o desencanto, a tristeza. O peso das paredes de uma casa que tantas vezes pareceu abater-se sobre o meu peito. A vida engolia-me e como não sei nadar, ia com a corrente, com a cabeça de fora conforme conseguia. A dada altura dei contigo. (...)

De cada vez que te olho ,sinto tudo aquilo de que falam as canções de amor. As canções de amor fazem-nos sentido. E os versos que apanho a tocar na rádio e sei e que acabo a cantarolar para ti... Não me canso de olhar para ti. É como se toda a beleza do mundo se concentre nos teus olhos, nos teus gestos calmos, na tua gargalhada. Em ti. Sabe tão bem estar ao pé de ti.  

Não me dou ao trabalho de julgar. Fico feliz quando escuto que há pessoas sem medo de viver a sua verdade, em liberdade e sem atropelar os minímos do civismo. Não sabemos a história toda para discorrer opinião sobre um capítulo. Somos tão humanos como o nosso par... A vida é tão bonita.

Em dias de chuva, a vida é perfeita. A lareira aconchega o ambiente e a alma. O sofá trás reconforto e aquelas meias quentinhas dão uma certa leveza, não sei... Sei que está frio e chove lá fora e tudo se ajeitou cá dentro. Até o teu abraço se torna um nadinha mais terno... E a tristeza dá lugar a um sentimento de momento eterno.. Podíamos ficar sempre assim. Podia ser sempre assim. Mas não é... Por isso é viver o presente.

Há dias em que não dá. Em que nos sentimos obesas e com o ânimo de um suicida... Em que o batom vermelho parece rasca e os saltos altos só nos faz parecer uns espantalhos. Em que a comida não sabe a nada. A vida não sabe a nada. Mas a gente segue... Sem atitude, mas com a solicitude que a rotina obriga a ter. A vida lá fora não pára só porque estamos na merda. Mais dia menos dia paga-se o preço do marasmo. Recorre-se aos livros de auto-ajuda e a frases inspiradoras do fulano (...)

  Mentiria se dissesse que acreditei em nós desde o início. Porque é mentira. Estava num sítio novo e eras a única pessoa ali com quem podia flertar. E comecei. Geralmente, em três dias estavas no papo e em cinco estavas despachado. Troféu alcançado, rapaz conquistado...próximo! Eu era assim. Quanto mais bonito o gajo com quem estava a falar, mais trabalho ia dar.  Ele a achar-se um garanhão quando na verdade quem estava a exercitar o poder de sedução era eu. E sim, isso (...)