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o lado negro da princesa

o lado negro da princesa

Tudo tem uma razão de ser

30.10.24, Mary

A terapia tem-me ajudado a olhar para momentos insignificantes do passado com outros olhos, como chave ou explicação para algumas situações do presente. Tenho feridas saradas que jamais pensei conseguir curar. Medos e ideias feitas que se foram. É bom ter quem nos oiça. É bom ser entendida e, sobretudo, compreendida. É doloroso. Mas vale a pena. Mesmo. Tenho um transtorno alimentar. Isso já sabia. Sempre descontei tudo na comida. Ter a barriga bem cheia calava a dor, fazia-me sentir melhor. Tornei-me expert em esvaziar açucareiros à colherada, com predilecção especial pelo açúcar mascavado. Só fui descoberta quando parti a tampa de um de porcelana. Desde então o açúcar ficou fechado a 7 chaves do meu alcance. Virei-me para o que havia a mão, desde mel a chocolate em pó. Só que a alturas tantas parei. Nada parecia preencher o vazio que sentia. Nada parava a dor. Ninguém ligava, cumpria a minha função de ajudar em casa, quase sempre sem brio, sem brilho, apagada como cinza. Continuei assim por muito tempo. Até sair da casa dos pais. Ganhar liberdade e reinventar-me. Cair e levantar. E hoje sei que nunca superei a saida do mano mais velho de casa. Foi isso a origem de tudo. Tinha uma vaga lembrança mas nada de certezas. Passaram 20 anos. Já não como açúcar à colherada! 

Dog days are over!

23.10.24, Mary

O regresso ao trabalho está perto. Sinto-me enferrujada, mal-habituada por não me levantar cedo a muito tempo, e claro, com um tamanho que mete respeito. Tenho evitado pensar no assunto para fugir à ansiedade. Tenho evitado alimentar expectativas para não ser como da última vez. E sobretudo, não sei quem sou depois da tempestade. Tenho estado resguardada para evitar perguntas, por me sentir frágil. Porque precisei deste tempo para mim. Escondi-me por opção, confiei na terapêutica e foquei-me na recuperação. Os pensamentos suicidas não acabaram, agora sei lidar com eles. A depressão está cá. Acabou foi o medo de enfrentar os problemas, isto é para a vida. Vai haver sempre gatilhos. Armadilhas. Mas já não me metem medo. E é isso que importa. 

Reflexões culinárias

22.10.24, Mary

Salsa em castelhano é molho. Já provei coentros e cheira a qualquer coisa e não me soube a nada. E sei distinguir coentros da salsa. Salsa tem sabor, fica bem em tudo, faz bem a tudo. A erva que mais me surpreendeu na cozinha até hoje foi o tomilho. A erva com que não sei fazer nada são os cominhos. Louro nunca falta cá em casa. Não gosto muito dos frascos com misturas de ervas, mas às vezes safam a coisa. Não cozinho, sei fazer de comer. Passava o resto da vida a batatas, ovos cozidos e um bom fiozinho de azeite. Ou a migas de feijão na panela de ferro. Alheiras assadas na brasa. Carne de vinha d'alhos. E hoje deu-me para isto. Já não há cozinheiros, agora é tudo Chef....

De mim

Para mim

21.10.24, Mary

Está tudo bem? Sabes perfeitamente que não...Não consegues encarar o tamanho que vestes atualmente. Por muito que vejas testemunhos positivos e isso, não consegues. E com isso, mal te encaras ao espelho. A auto-estima outra vez no lodo. Voltas a sentir-te patinho feio, ou melhor, fazendo jus às tuas curvas atuais, uma avestruz. Era mais fácil recorrer a lugares comuns pra te levantar a moral, mas... lembras-te de quando duvidavam que saisses de casa? Saiste e conseguiste. Carta de condução? Done. Lembras-te daquele fim de semana, o primeiro sozinha, e a liberdade que sentiste? Saiste daquele inferno que te deu cabo da saúde mental. Deste um salto de fé e daqui a uns dias estás de volta ao trabalho. Não abaixas a cabeça pra ninguém, mesmo que te pisem. Mesmo que doa, não tens medo. És um mulherão, determinada e cheia de força. A versão totó não te fica bem. Portanto, a cena do tamanho da roupa não é nada que não resolvas. Foco. E acredita em ti. 

 

Café, bendito café

17.10.24, Mary

No início do tratamento uma das coisas que me proibiram logo foi o único, o inigualável...café. Foram meses a cheirar, a babar literalmente, a invejar quem podia. Doeu. Substitui pelo Brasa, que é super bom, cevada quando não havia melhor. E lá andei, augada, triste e infeliz. Só que a minha tristeza terminou num belo dia de Julho, depois de um diagnóstico duro de esgotamento e burnout, o psiquiatra tirou a proibição ao café! Já podia! E aquele dia que podia ter sido de drama, foi um dos mais felizes nos últimos tempos.  Viva o café!

Para lá da negritude

15.10.24, Mary

Leio muitas vezes que os livros são viagens, são sonhos. São as portadas para para paraísos recônditos, culturas desconhecidas, passado, presente e futuro. Partilho da opinião. Só não vou em modas. Menos um, que me cativou e não resisti. O tempo entre costuras. Maria Dueñas. Pronto já confessei. Mas não é dele que venho falar hoje. É de um livro que li algures na infância. Li, gostei, ok. Até que, anos depois, aquela história me faz sentido. Como se, só agora eu entendesse verdadeiramente a história. O significado. 

Cortei as tranças, de António Mota. 

Marcos do caminho

14.10.24, Mary

Cheguei a meio do caminho entre os 30 e os 31 e fazendo uma retrospectiva...sinto que saltei etapas, não vivi alguns momentos tão intensamente como queria. Falhei tantas e tantas vezes. Foram poucos os certos, várias tentativas. Metas que já "devia" ter batido e estou longe de lá chegar. Um pequeno t2, um carro bonito, bebés, um perfil de instagram perfeito e rentável. Admiro quem tem essa vida, mas desviei-me desse caminho a muito tempo, lá atrás quase nos 20. E agora, neste meio do caminho, não sei para onde vou... só sei que não vou por onde é suposto.

Be fit.

13.10.24, Mary

Sê magra. Tenta caber na roupa toda que gostes. Não te compares para te sentires melhor. Não desdanhes o traje das outras, não faz de ti melhor. Tira ideias. Levanta a cabeça, senão a tua bunda ainda parece maior. Não chores no provador. Não chores nas lojas. Não te chores a toda a hora. Estás gorda. Aceita que dói menos e toca a andar que para a frente é que é caminho. 

Postcards from melancholy

05.10.24, Mary

Perdi o calor do Verão e a doçura da luz de Setembro. Tive férias insonsas, iguais a tantos outros dias. Não senti o cheiro das ervas secas, não me chateei com o caos em todo o lado tão típico de Agosto. Optei por me enclausar, em casa, no ninho, recuperando das dores, sarando feridas, chorando de dor e revolta tantas e tantas vezes... sinto que perdi o mundo lá fora, mas senti que também precisava disto. Passaram 3 meses desde que aquela conversa mudou a minha vida. E eu nesse dia não sabia que tinha uma entorse, um esgotamento e estava exausta mentalmente. Só jurei a mim mesma que nunca mais punha lá os pés. E cumpri.

 

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